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Projeto Nossa Gente: conheça as trajetórias dos servidores Maurício e Penha no Campus Vitória

Publicado: Terça, 19 de Abril de 2022, 10h49 | Última atualização em Terça, 07 de Fevereiro de 2023, 16h10

Juntos, os dois somam 100 anos de dedicação à instituição. Maurício com 51 e Penha com 49.

 Penha e Mauricio

O professor José Maurício Rodrigues já viveu muitas histórias no Campus Vitória. Entrou como estudante na instituição em 1964, na primeira turma do curso de Eletrotécnica. Na época o campus era intitulado Escola Técnica Federal do Espírito Santo, nome que é conhecido até hoje pela sociedade capixaba. Em 1971, Maurício se tornou professor da instituição. Nesta época, segundo Maurício, existiam muitas oportunidades de emprego. “Podíamos escolher onde trabalhar. Tive a oportunidade de receber o dobro do meu salário em uma empresa de mineração, mas queria mesmo era ficar na Escola Técnica ”, confessa. Logo que terminou o curso, Maurício sabia que era aqui que queria viver os próximos 51 anos da sua vida, até 2022, ano que se aposentou. “Este lugar virou minha casa e meus colegas de trabalho, minha família”.

História parecida com a da Assistente em Administração Maria da Penha Xavier Araújo, que iniciou sua carreira no campus, na implantação da Coordenadoria de Integração Escola Empresa (CIEE), aos 18 anos. As atividades começaram com um contrato de experiência, com a expectativa de ficar alguns meses na instituição, que na época não tinha concurso público. E já se foram 49 anos. Penha é a coordenadora de Registros Acadêmicos de cursos superiores do Campus Vitória, função que desempenha desde 2012.

Este é o começo de duas histórias que marcam o início do Projeto “Nossa Gente”, iniciativa da Coordenadoria Geral de Gestão de Pessoas (CGGP) do Campus Vitória, com apoio da diretoria-geral e que tem o objetivo de compartilhar as memórias e histórias dos servidores a partir de suas trajetórias, experiências, vivências, emoções, percepções e sentimentos. O projeto também visa contribuir para o desenvolvimento sustentável do clima e cultura organizacional humanizada.

MauricioContinuando a trajetória de Maurício, ele viveu uma infância itinerante. Nascido em Coimbra, município perto de Viçosa (MG), sua avó e seu pai eram proprietários de um parque de diversões. Sua avó administrava o parque e seu pai trabalhava no circo, gerando o entretenimento muito conhecido das gerações dos anos 70, 80 e 90. Mas Maurício estava do outro lado da diversão, sempre mudando de casa e de vida. “Não fazia amigos e mudava muito de escola. Eram de 2 a 3 meses em cada local que o circo ficava”, destacou.

Em uma visita a uma tia em Jardim América, Cariacica, seu primo, já estudante de engenharia, o apresentou à Escola Técnica e as oportunidades que ele poderia ter se passasse no processo seletivo. Maurício já tinha a formação no ginásio em Aprendizagem Industrial – nome do Ensino Médio da época. Com este sonho, Maurício passou noites com a companhia de uma lamparina, almejando sua vitória. E ela veio. Só que aquele era só o começo de um longo caminho. “Não tinha como me sustentar apenas estudando. No meu segundo ano do curso de Eletrotécnica, acabou o internato e fiquei sem ter onde ficar. Não tinha como ir morar com a minha tia. Tentei ficar em algumas repúblicas nos arredores da instituição – cheguei a dormir escondido para não prejudicar os colegas que me ajudavam – mas não consegui manter a situação. Tive que voltar para Valadares e aquilo me deixou muito triste”, explicou.

No retorno para Minas Gerais, quando chegou, percebeu que tinha levado o livro “Os Miseráveis” da Biblioteca da Escola Técnica e que precisaria devolver. Sua avó, em uma viagem à Vitória, trouxe o livro para devolver à instituição e, na entrada, encontrou um amigo da sala de Maurício, que perguntou por ele. Naquele momento o destino de Maurício seria mudado. A avó entregou o livro e, com ele, uma carta para toda a turma. A carta foi lida, em partes pelos colegas, já que todos estavam tomados pela emoção e não conseguiam terminar as frases. E uma decisão foi tomada. Todos se juntaram, com apoio também de professores, e o trouxeram de volta para Vitória. Ele foi morar em Fradinhos e ficou no bairro até formar-se. A carta foi lida na aula da professora de Português, Maria Helena Siqueira, que também era diretora de Ensino da Escola Técnica na época. “Aquela turma era fantástica. Temos contato até hoje”, emocionou-se.

E Maurício não estudou apenas o curso técnico. Mais tarde formou-se em Psicologia, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com o objetivo de entender melhor o público que atendia: os estudantes. “Ser professor é ter a oportunidade de transformar vidas. E tinha a preocupação de transformar verdadeiramente a vida dos meus alunos”, explicou. Também iniciou o curso superior de Matemática na Ufes, mas este não chegou a finalizar. Fez ainda o mestrado e o doutorado em Educação.

Maurício é pai de três filhos e avô de dois netos. É de uma família de seis irmãos e vive há mais de 40 anos com sua companheira. Além de professor, na instituição Maurício atuou como Assessor Executivo e Ouvidor, na Reitoria. Para a aposentadoria, que aconteceu em 2022, ele disse que não tem planos. Continuará suas caminhadas diárias e seu outro hobby: tirar fotos. “Gosto muito”, afirmou. “Quero voltar a fazer aulas de violão também. Quem sabe”. Leitor assíduo, estava com uma obra na hora da entrevista que já virou uma indicação preciosa. “Estou em um momento de deixar a vida me levar. Acredito que ainda tem muita coisa que posso fazer”, finalizou. É isso Maurício. Deixa a vida te levar. E que sejam em caminhos de mais realizações.


TRAJETÓRIA DE TRANSFORMAÇÃO

Ao contrário de Maurício, Penha ainda não se aposentará. Na verdade, ela inicia este ano uma nova vivência: mudará as cenas do palco da vida para o Teatro do Campus,Penha fazendo parte da Oficina de Teatro Artífices, atividade de extensão que teve início em 2022 no Campus Vitória. Penha continua deixando sua marca no Serviço Público. Já participou do Coral Cameria como coralista, desde a fundação do mesmo, faz parte do Conselho de Administração da Facto, do Conselho Fiscal do Sinasefe e da Comissão de Reformulação do Regulamento do Ensino Superior.

Atualmente atuando como coordenadora de Registros Acadêmicos dos cursos superiores, ela relembra que, em uma época, trabalhava com mais onze mulheres na sala que hoje funciona a Diretoria de Ensino (Diren). “Ficávamos todas juntas. Era muito bom", frisa. Quando iniciou na instituição sua coordenadora foi a servidora Maria do Perpétuo Socorro Braga de Castro, nome que atualmente tem a porta da Diretoria de Extensão (Direx). Não à toa seu nome é celebrado. Penha relembra do cuidado da coordenadora com os estudantes da época. “O CIEE tinha o papel exclusivo de encaminhar o estudante para o estágio. E ninguém saia da sala sem resolver seu problema”, comenta ela, ressaltando as oportunidades para os alunos do Ifes. “Nesta época, grandes empresas vinham na instituição para buscar estudantes que queriam estagiar. Sempre tivemos os melhores alunos do mercado”. Penha também teve a oportunidade de trabalhar em uma empresa de mineração onde ganharia mais, mas optou por ficar no Ifes, que em 1974 promoveu uma prova interna, aplicada pelo MEC, para os funcionários se tornarem servidores. “Aqui era um local caloroso, viramos uma família. Sabíamos das dificuldades, das alegrias e tristezas, até porque trabalhávamos todos no mesmo horário”, afirmou. E Penha sabe o que é lidar com dificuldades e perdas. Em 1983 ela estava grávida do seu primeiro filho, que nasceu e morreu 14 dias depois. “Encontrei conforto aqui. Voltei a trabalhar antes do tempo previsto porque era muito difícil ver as coisas do bebê. O que eu tinha aqui me fortaleceu”, relembra.

Sobre as transformações tecnológicas do setor, Penha se recorda que foram muitas. “Tínhamos um setor de Datilografia aqui (onde atualmente funciona a Mecanografia). Tinham muitas feras na máquina de datilografia, que preparavam os documentos e boletins dos estudantes. Passamos pelas fases do mimeógrafo, estêncil à álcool e elétrico”, comenta, olhando as esferas das máquinas de escrever que guarda com ela até hoje. Quando os computadores chegaram na instituição, muitos não se adaptaram. “Teve servidores que preferiram se aposentar porque não se adaptaram à nova realidade”, explicou. Penha disse que eram realizados treinamentos e capacitações para o uso dos computadores, mas a maioria do aprendizado era “metendo a cara mesmo”. “O know-how que tínhamos com as máquinas de escrever ajudou muito. Fomos nos aperfeiçoando”, frisou. Atualmente, o campus Vitória conta com mais de 60 mil processos de estudantes.

Penha é moradora de Vila Velha, onde reside com seus dois filhos. Cercada de familiares na cidade, faz parte de uma família de sete irmãos. Mineira de Governador Valadares, ela conviveu com muitos colegas na instituição que se aposentaram e faleceram. “Sinto muita falta dos amigos que fiz aqui”, destaca. Mas ela gosta de trabalhar no campus atualmente. “Convivo muito bem com a equipe e fazemos muita troca”, explica ela, que não hesita em colocar em prática a experiência que adquiriu nestes 49 anos de atuação. “Sou muito brincalhona, mas às vezes mal humorada também”, avalia. Questionada sobre o que a sustentou no campus todos esses anos, ela fala que se manteve antenada e aberta ao diálogo no processo de crescimento da instituição. “Disseminar conhecimento é muito importante. Procuro me manter atualizada”. E ela atendeu muitos estudantes, que se tornaram diretores, professores e servidores do Ifes.

Maurício e Penha concordam que sentem falta da realidade que viveram nos anos 70 na instituição. Mas afirmam, também, que as mudanças foram necessárias e importantes para o Campus Vitória. “Tínhamos uma estrutura muito boa, mas a escola cresceu bastante”, avalia Penha. Em um comparativo da sua época de estudante e os dias de hoje, Maurício destaca que cada momento teve seus ganhos e suas perdas. Mas o que ele enfatiza é a coletividade e o cuidado um com o outro que ele pôde vivenciar nas décadas anteriores. “Esta nova geração tem muitos ganhos, muita informação e muitos recursos. Isso é muito bom. Mas o cuidado que tínhamos uns com os outros não vejo tanto. Tínhamos mais identidade e coletividade”, frisou.

Maurício e Penha são servidores que desenharam – e continuam desenhando – a formação do Campus Vitória, como tantos outros professores, técnicos-administrativos e colaboradores. O Projeto “Nossa Gente” também pretende estimular nos servidores atuais o reconhecimento e o respeito pelas trajetórias construídas, unindo passado e presente em um propósito: promover educação profissional pública de excelência, integrando ensino, pesquisa e extensão, para a construção de uma sociedade democrática, justa e sustentável.

 

 

 

 

 

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