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Conheça as histórias de Antonio Henrique e José Luiz no Projeto Nossa Gente

Publicado: Terça, 07 de Fevereiro de 2023, 16h13 | Última atualização em Terça, 07 de Março de 2023, 12h05

O Nossa Gente retorna esse mês e com identidade visual. 

 

Projeto Nossa Gente: Antonio Henrique e José Luiz

 

O Nossa Gente, que teve a primeira publicação em abril de 2022, retorna esse mês e já tem cronograma até o final do ano. Além disso, a iniciativa agora tem uma logo.

O projeto tem o objetivo de incentivar o compartilhamento de memórias e histórias dos servidores, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do clima e da cultura organizacional humanizada. A apuração das informações e o texto do projeto dessa vez foram produzidos pelo servidor Vinicius Gonçalves Langa, da Coordenadoria Geral de Gestão de Pessoas (CGGP) do Campus Vitória. Confira. 

Mais de um século de história em 30 anos

A relação com o Ifes de Antonio Henrique Pinto, hoje vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica, começou na juventude, como aluno e bolsista, no final dos anos 70. Na década de 90 voltou como professor e, desde então, acumula, apenas na instituição, mais de 30 anos de docência. Além de lecionar, atuou no sindicato e participou ativamente da vida do campus. Integrou, ainda, a primeira turma de professores a alcançar a classe de titular. Uma parceria tão rica que acabou sendo tema de sua tese de doutorado, sobre a evolução do ensino de Matemática na instituição, o que lhe rendeu um livro, além de muitas histórias para contar.

Natural de Colatina, Antonio Henrique Pinto ouviu falar da então Escola Técnica de Vitória, como era conhecida na época, pela primeira vez, quando finalizava o que hoje seria o ensino fundamental: “Uma professora falou que quando a gente terminasse a oitava série, para já nos prepararmos e inscrever-nos na Escola Técnica de Vitória. Ela contou o que era, que não era fácil passar e que precisava se dedicar. Essa foi a primeira vez que ouvi falar daqui. Ingressei aqui como estudante e era uma realidade que a gente não conhecia.”

Entrou na instituição em 79, então com 14 anos, sendo um dos mais novos de sua turma, e viveu, o que classifica como uma experiência riquíssima. “Durante os três anos que a gente conviveu aqui, era um mundo de informação. A gente tinha todas as experiências agradáveis que um adolescente em formação precisa. Bons professores, bons ambientes, bons colegas”. Foi uma época de importante socialização com os colegas, que formavam grupos para sair ou se juntavam na escola para jogar futebol. “A prática esportiva, na época, para nós era algo fantástico. Aos sábados era só laboratório e nossas aulas começavam às 7h. A gente chegava aqui às 6h pra jogar bola. Pra estar aqui nesse horário eu, que morava lá em Laranjeiras na época, tinha que sair antes das 5h20. Jogávamos bola, tomávamos um banho rapidinho e íamos pros laboratórios. Isso pra falar do fim de semana. Durante a semana a gente chegava aqui cedo e ficava até tarde.”

Atuou na área por um ano. “Era uma época de muita crise econômica, inflação lá nas alturas, mercado de trabalho não estava atendendo, aí falei, quer saber, vou estudar.” Iniciou Engenharia Elétrica em 85. Recém-ingresso na universidade, percebeu uma carência de professores de Matemática e começou a dar aula. “Fiquei aquele período lecionando e estudando. Em sala percebi que era aquilo que queria fazer. Troquei de curso, de engenharia pra Matemática, e aí me senti mais à vontade, mais identificado com o que eu estava estudando e trabalhando”.

Concluiu o curso em 1991, e continuou trabalhando nas redes estadual e municipal. “Em 92/93 apareceu um contrato de estágio aqui. Fiquei como contratado um ano e logo no ano seguinte teve o concurso para efetivo, fiz e passei, onde estou desde então. Lembro que na época algumas pessoas perguntaram se assumiria aqui, pois juntando a rede municipal com a estadual o salário era melhor. Foi uma decisão acertada ter largado tudo e vindo pra cá. Embora o salário não fosse tão bom, as condições de trabalho eram boas, tinha a perspectiva de dar aula para o segundo grau e tinha também um componente afetivo.”

Ao voltar para a instituição percebeu que aquela geração já estava inserida num contexto mais tecnológico, e essas transformações impactaram nos jovens. Era um período em que eles não pareciam ter muitas perspectivas; sendo assim, o futuro dos egressos era mais incerto. “Era um período no qual eles não tinham, me parece, muitas perspectivas. Na época, décadas de 70 e 80, a gente já, na maioria dos cursos, saía para algumas empresas ou para a universidade. Quando retornei essas empresas já estavam sendo privatizadas. O mundo de trabalho já era outro, o futuro mais incerto. Eles já não tinham aquela certeza. Não são as grandes estatais com que a gente conviveu. Isso de certa forma influencia a formação dessa garotada”.

Essa quebra de expectativa com o mercado de trabalho não foi a única mudança percebida pelo professor. O próprio ensino de Matemática havia mudado desde o seu tempo de estudante, o que o motivou a pesquisar a evolução do ensino da disciplina no Ifes. “Como professor de Matemática, quando ingressei aqui nos anos 90, o ensino tinha passado por mudanças; não era mais aquela dos anos 70. Aquilo me trouxe uma curiosidade”. A percepção dessa mudança levou-o a pesquisar a evolução do ensino dessa matéria ao longo da história da instituição, o que se tornou tema de seu doutorado, culminando no livro “Educação Matemática e Educação Profissional: elos de uma histórica relação”. “Em meu livro, por exemplo, eu começo lá nos tempos de escola de aprendizes e artífices que, naquele contexto inicial, era uma educação profissional para meninos carentes, alunos que não sabiam ler, escrever ou fazer contas. Fui lá atrás para entender esse processo, como era a educação de matemática nesse contexto de escola primária”.

Antonio Henrique no Laboratório de Ensino de MatemáticaAlém de mapear esses avanços, ele esteve em contato com um rico acervo e diversas histórias dessa longa jornada, como o início da presença feminina no campus: “Já se tinha indícios das mulheres se preparando para o mercado de trabalho aqui, encontrei ficha de alunas aqui na década de 50. O incentivo para a presença de alunas aconteceu efetivamente na década de 70. Inclusive registrado em ata do conselho de professores, quando o Professor Zenaldo comentou que a partir daquele momento eles passam a liberar e incentivar a presença do público feminino. Foi um aspecto muito marcante, a presença das professoras aqui, inicialmente na educação geral, em disciplinas como matemática, português, artes etc; e depois nos anos 60, nas áreas técnicas. Esse é um aspecto que eu gosto muito de marcar: a presença da mulher no mercado de trabalho e na sociedade capixaba tem uma referência aqui no Ifes”.

Dentre suas descobertas garimpando o acervo da instituição e do Arquivo Público Estadual foram duas cartas, uma de um pai pedindo ao então presidente Getúlio Vargas para intervir na reprovação do filho na Escola Técnica, e outra uma troca de correspondência entre o presidente da Associação Nacional dos Surdos e o então diretor, nos anos 60, em que se pedia vagas para alunos com deficiência, mas que, segundo o então gestor da escola, não havia condições de acolhê-los na época, pois não tinham professores habilitados. “Apesar dessa discussão de inclusão ser recente, lá na década de 60 já havia essa demanda”. O material de pesquisa para sua tese foi tão rico que outro livro já está sendo preparado, só com histórias que não entraram no primeiro.

Sobre o ensino ele acrescenta: “Sempre quando eu vou falar da importância, conto essa história, que é muito simples, mas me marcou. Eu estava dando aula para uma turma de Educação de Jovens e Adultos, no laboratório de ensino de Matemática. Em uma dessas turmas tinha uma moça que apesar de ter concluído o segundo grau fora do Ifes, veio estudar aqui. No final do segundo ano fez o vestibular. Eu lhe perguntei como tinha sido a prova, e ela me respondeu que tinha ido muito bem, que tinha acertado cinco questões de 15. Eu estranhei serem apenas cinco, ao que ela me esclareceu que antes das nossas aulas não acertava nenhuma”.

Ele ainda atuou ativamente na reformulação do currículo e nas discussões sobre a carreira, e hoje não só é uma fonte fantástica e profundamente conhecedora da história de mais de um século do Ifes, como já garantiu seu lugar nas crônicas da instituição: fazendo parte da primeira turma a alcançar a classe de professor-titular. Antônio, assim, vivencia uma relação extremamente frutífera para quem nem sequer havia ouvido falar da escola até alguns meses antes de nela ingressar como estudante.

Uma segunda chance para servir às pessoas

José Luiz da Silva, conhecido como Tio Zé pelos egressos, completa 30 anos de Ifes em 2023. Ocupante do cargo de auxiliar de enfermagem, e lotado no serviço médico, ele veio para a instituição transferido do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam) nos anos 90. Vários são os ex-alunos que o reconhecem na rua e param para cumprimentá-lo. “Teve uma vez que eu estava no aeroporto e uma ex-aluna que trabalhava lá me reconheceu e fez questão de tirar uma foto comigo. Foi engraçado ver quem estava em volta achar que eu era alguém importante”, conta ele aos risos.

No Hucam atuou no centro cirúrgico e, posteriormente, no pronto-socorro, segundo ele, duas funções que eram correria pura. A transferência para o Ifes foi para buscar um pouco mais de tranquilidade. Sua esposa, que também é da área, soube que abriria uma vaga na então escola técnica, e veio por duas vezes conversar com o diretor sobre a possibilidade de transferência, sem sucesso, pois sempre se desencontravam. “Na terceira vez, ela já não quis vir, falou que se eu tivesse interesse era pra eu tentar. Quando cheguei aqui, de primeira já consegui. A gente entendeu que a vaga era pra ser minha”.

Dentre as inúmeras histórias acumuladas em seus anos de instituição, nenhuma, provavelmente, seja tão marcante quanto o susto que ele pregou nos colegas. Quem o vê hoje, sorrindo e brincando, não imagina que em 5 de novembro de 2019 ele morreu por 24 minutos. José Luiz foi socorrer uma aluna que estava com cólicas e nem sequer conseguia andar. “Busquei ela com a cadeira de rodas e coloquei no repouso; esquentei uma compressa de água morna, pedi que ela a aplicasse a bolsa no local da dor, orientei para que se posicionasse na cama e, só lembro até aí”. Ele sofreu um infarto agudo do miocárdio com morte súbita. “No meu prontuário está anotado o diagnóstico e escrito, ainda, morte súbita abortada. Os médicos quando olham minha ficha falam que eu tive uma segunda chance”.

Quem conta o que aconteceu durante esse tempo são os colegas. “Eu estava em uma sala e minha colega em outra, quando ouvimos a moça nos chamando e falando que o Zé tinha caído. Quando corri vi que ele estava debruçado na cama e sem pulso. Não sei de onde tirei forças, mas peguei ele no colo, pra trazer pro chão e começar a fazer manobra de ressuscitação”, relata a doutora Gisele Zamprogno Schimidt, uma das médicas do Campus Vitória. “Com a chegada do SAMU, eles mandaram a gente continuar o que estava fazendo enquanto eles buscavam o desfibrilador. No primeiro choque o Zé já sentou. Ele então foi colocado na ambulância e levado para a unidade coronariana do Hospital das Clínicas, onde foi submetido a um cateterismo e constatado a necessidade de cirurgia de peito aberto”.

“Acordei, já no hospital, com minha família rodeando a cama. Quando perguntei o que tinha acontecido, minha esposa foi direta: ‘você morreu lá no trabalho, Zé’”. A primeira preocupação do servidor foi descobrir para quem tinham contado, pois uma de suas filhas, justamente quem recebeu a notícia, estava grávida de dois meses e já tinha sofrido um aborto em uma gestação anterior, ao quarto mês. “Graças a Deus correu tudo bem e tive chance de conhecer meu primeiro neto, que hoje já está com dois anos e seis meses e é forte e feliz. Em dezembro passado fui avô pela segunda vez”.José Luiz no ambulatório.

“Quando fomos visitá-lo, depois, comentávamos do susto que levamos e ele não se lembrava de nada, pra gente foi uma experiência muito dura. Apesar de sermos treinados,  nunca achamos que vamos passar por isso com um colega. Vê-lo aqui hoje é uma sensação maravilhosa, ele é especial, tanto que comemoramos todos os anos a data como se fosse um segundo aniversário”, acrescenta Gisele.

Após a recuperação, novo susto. “Eu voltei no dia 4 de março de 2020, com todo mundo me abraçando e cumprimentando, mas no dia 20 a escola fechou, já estávamos na pandemia”. Não só para ele, mas para toda a equipe, foi um momento muito difícil. “Era tudo muito novo. Fazíamos muita coisa à distância, mas era complicado, porque aqui a gente desenvolve as tarefas em equipe e de repente todo mundo tendo que ficar separado. Vivemos um período de muita pressão. Aqui que era um serviço de orientação, mais tranquilo, acabou se tornando um foco de referência”.

“Atuamos na organização da escola, sempre na expectativa do retorno e preocupados com o Zé, que ainda estava em recuperação. Logo que possível voltamos presencialmente, um pouco antes da vacinação, mas era muito estranho, porque a escola estava vazia, apenas nós estávamos aqui”, conta Gisele. “Apesar de termos voltado, o monitoramento continua, pois cada vez que tem um pico nos casos, aumenta a demanda e ficamos naquele medo de tudo voltar de novo”.

Nesses 30 anos, além desses desafios, ele viveu muita coisa. Foi responsável, por exemplo, pela sopa que era servida à noite. “Montamos uma equipe e recebíamos doações, com elas nós fazíamos vários cardápios seguindo a orientação do nutricionista da Ufes. O pessoal que vinha direto do trabalho comia e ia feliz pra assistir as aulas”. Sempre, antes da pandemia, tinha um chá pronto e às 15h muita gente passava lá só para tomá-lo. “Alguns vinham para acalmar; chegavam aqui, pegavam um copo, começavam a conversar e saiam mais tranquilo”. Além de tudo, foi homenageado duas vezes em formaturas e ajudou muito formando com um curativo e, às vezes, até com um reparo na roupa.

São três décadas dedicadas ao Ifes, servindo às pessoas, com sorriso e carinho, contando com o reconhecimento de muitos, que fazem questão de voltar para vê-lo, ou que o param na rua para fazer selfie. Apesar de já ter acumulado tempo, quando perguntado sobre se aposentar, ele responde aos risos: “só vou pedir depois da esposa, vou esperar pra gente ter tempo livre juntos, até porque quem sai não tem tempo livre, acaba trabalhando para o resto da família. De agora pra frente vou continuar curtindo o Ifes e os colegas até a hora de aposentar, sempre convivendo com alegria”.

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