A soma das boas lembranças de docentes da Matemática
Como parte das ações da Semana de Matemática, o Nossa Gente traz as histórias dos docentes da coordenadoria.
Pedro Bandeira, em sua obra infantojuvenil Pântano de Sangue, de 1987, escreveu “[…] para o professor Elias, a matemática era a única ciência verdadeiramente humana. Como? Para ele, isso era claro: a natureza cria seus fenômenos físicos, químicos, biológicos e geográficos independentemente da ação do homem, mas a natureza não cria teoremas, equações, nem logaritmos. Isso são criações humanas. A natureza produz laranjas, por exemplo, mas não soma ou subtrai laranjas. Isso é uma abstração da inteligência humana. Portanto, a matemática é a única ciência inventada pelo homem”. A despeito de todas as polêmicas derivadas da afirmação acima, é inegável a presença e a utilidade dessa ciência em nossas vidas, com aplicações que vão desde as mais simples, como o somatório de notas e a subtração dos valores gastos em nosso saldo bancário, passando pelo cálculo de probabilidade de um determinado evento acontecer, até todas as operações necessárias para construção de grandes obras.
Com uma tradição centenária de ensino técnico, sobretudo em áreas de exatas, o Ifes – Campus Vitória conta com uma coordenadoria de Matemática com 27 docentes. Desses, além de Antônio Henrique Pinto, cuja história já apresentamos no Nossa Gente, temos mais oito professores, que passaram por esses corredores, seja no ensino médio, superior ou pós-graduação, fruto da verticalização dos institutos.
Assim, temos histórias como a de Elvira Padua Lovatte, no Ifes desde 2009, tendo passado pelos campi de Aracruz e Cariacica, e sendo finalmente removida para Vitória em 2017. Ela foi ex-aluna do Ensino Médio Técnico em Edificações. Apesar de ter tido uma prima que fez o mesmo curso, e uma irmã que passou por Estradas, não tinha muita informação sobre o instituto. “A gente não tinha um entendimento do que era escola técnica. Entrei aqui em 87. Eu morava em Vila Capixaba, onde estudei. Na minha 8ª série, tinha um excelente professor de matemática, que fazia Engenharia na Ufes, e ele dizia que eu tinha que fazer escola técnica. Fiz a prova, achei muito difícil, mas passei. Isso aqui era um mundo, tinha piscina, quadra e os professores eram completamente diferentes da nossa realidade. Entrar aqui foi uma mudança de vida, foi a oportunidade que eu tive para chegar onde estou hoje”, conta a docente.
Também egressa do ensino médio, Clariana Martinelli Silva entrou na instituição em 2001. “Na época eram separadas as duas modalidades; caso quisesse fazer o técnico precisaria de uma nova seleção. Na época nenhuma das opções me interessava muito, então fiz só o médio mesmo”, explica a professora. Ela começou sua carreira no Ifes em 2013 em Nova Venécia e veio para Vitória em 2019. “Eu só entrei aqui por causa da minha mãe, que estudou aqui. Fez mecânica, era a única menina da sala dela. Lembro de estarmos passando de carro aqui em frente e ela ter falado que tinha estudado aqui e que gostaria que a gente estudasse também. Falei que então está bom, que eu estudaria ali. Aqui foi o primeiro lugar em que eu tive essa sensação de liberdade e responsabilidade. Eu morava em Vila Velha, então tinha que vir para a escola de ônibus, em uma época que não tínhamos celular. Lembro que a gente saía daqui e ia parar no Shopping Vitória andando”.
Já a professora Luana de Oliveira Justo Souza sempre sonhou em entrar no Ifes. “Eu sou nascida na década de oitenta, então naquela época estudar no Cefetes era um sonho. Quando eu terminei o primeiro grau, na época, fui tentar a seleção, mas por problemas financeiros não tive como pagar a taxa e não consegui isenção, então não fiz a prova, o que me deixou sempre com essa sensação de vazio, sem saber se teria passado. Já na época do pré-vestibular eu fiz o cursinho Universidade pra Todos na Ufes e tinha vários colegas que estudavam aqui e eu ficava paquerando aquela camisa, querendo ser aluna. Então quando chegou o momento de prestar vestibular, tentei Matemática na Ufes e Tecnologia em Saneamento Ambiental aqui à noite. Eu fiquei mais feliz de ter passado aqui do que na Ufes, e olha que minha afinidade sempre foi mais com a Matemática”, conta a docente. “Lembro que no primeiro período tive aula com o Celso Soprani, professor aposentado da Matemática. Ele era maravilhoso e foi uma inspiração na minha formação como professora. Tive aula também com a Adriana Márcia Nicolau Korres, que chegou a me reconhecer como ex-aluna, e com o Jose Marcos Stelzer Entringer, com quem nunca tive coragem de comentar”, finaliza Luana. Ela é casada com o Guilbert de Arruda Souza, professor da mesma coordenadoria e, nas palavras dela, “ele é amor da graduação”.
No Ifes desde 2016, e com passagem pelos campi de Linhares e Aracruz, Jose Carlos Thompson da Silva foi aluno do Mestrado profissional em Educação em Ciências e Matemática (Educimat). “Minha proximidade com o Ifes começou em 2011, eu era professor da rede estadual, quando o governo federal lançou o Pibid e ele chegou na escola em que eu trabalhava e eu vinha participar de reuniões aqui. Em 2012 eu ingressei no Educimat e terminei em 2014; durante esse período eu pude conhecer melhor como funcionava o Ifes. Participei de eventos, tive contato com os professores e pude conhecer as dinâmicas da pesquisa e da extensão, com isso meu interesse foi crescendo. Fiz concurso em 2015”. Para ele, a grande vantagem é poder fazer um trabalho diferenciado com os alunos, podendo atendê-los dentro da própria carga horária. “Eu tive várias doenças na infância, dentre elas, um aneurisma cerebral, que teria que operar, e não poderia mais estudar; se eu sobrevivesse à cirurgia ficaria vegetativo. Foi por milagre e fé da minha mãe que eu fui curado. Então ser professor hoje para mim, além de uma profissão, é uma superação daquilo que vivi na infância”, conclui.
Dentre tantas experiências e vivências, uma coisa fica claro: quem passou pelo Ifes, não importa em que idade ou momento da vida, tem seu destino marcado. Essas paredes, recordadas com tanto carinho pelos ex-alunos, agora servidores, representam um verdadeiro divisor de águas na vida de muitos jovens.
De 24 a 26 de maio o Ifes – Campus Vitória sediará a 9ª Semat, cujo tema será: "Aprendendo com o Ontem, Construindo o Hoje e Preparando o Amanhã". Durante o evento serão oportunizados espaços para divulgação e socialização das experiências vividas em ambientes formais e não-formais, incluindo pesquisas de professores, alunos e comunidade científica. Uma excelente oportunidade para alunos e professores do Ifes, e de escolas públicas e particulares da Grande Vitória conhecerem um pouco mais sobre o universo da Matemática. E ainda, um momento propício para resgatar ideias e noções que promovam contínua ressignificação dessa ciência, sobre a qual o próprio Einstein afirmara: “A Matemática não mente. Mente quem faz mau uso dela”.
Redes Sociais