Qual foi o seu último ato de gentileza?
A gentileza pode funcionar como uma responsabilidade social, como quando ouvimos música com fones em público para não incomodar os outros.
Segundo Daniel Fesser, diretor do Instituto Bedari Kindness da Universidade da Califórnia, organização especializada em estudos sobre a gentileza, é justo dizer que, hoje, “vivemos em uma época nada gentil”. Estamos vendo constantes conflitos, visões políticas, aumento da urbanização e tecnologia, nos levando a relações menos diretas com as pessoas. A música “Gentileza” de Marisa Monte resume: “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza”, “Nós que passamos apressados pelas ruas da cidade merecemos ler as letras e as palavras de gentileza.”
O que perdemos quando a gentileza é vista como “coisa do passado”? Em um mundo em que somos levados cada vez mais a interações superficiais, um gesto genuíno de generosidade pode nos lembrar da beleza das relações humanas e nos reconectar profundamente.
Imagem inspirada na obra do profeta urbano José Datrino, conhecido como Profeta Gentileza
A gentileza é um cuidado mútuo e genuíno.
A gentileza pode funcionar como uma responsabilidade social, como quando ouvimos música com fones em público para não incomodar os outros, ou quando dizemos “por favor” e “obrigada” automaticamente. Aqui, estamos falando de quando praticamos atos autênticos de empatia e compaixão. Quando a gentileza é genuína, nos fazemos mais humanos, segundo a psicóloga e psicanalista Cintia Travassos.
“Ela pode surgir quando a gente pode olhar para algumas coisas muito difíceis em nós. E aí, então, a gente tem esse registro da dificuldade pessoal de cada um de existir, de lidar com as próprias questões, com isso a gente pode ser gentil e cuidadoso com os outros e nós mesmos.”
Quando reclamamos da “incivilidade” e falta responsabilidade com o outro nos tempos de hoje, sentimos a necessidade de uma “civilidade” que respeite a existência de todos. Quando inserida no nosso cotidiano, a gentileza pode evitar alguns conflitos, já que não podemos fugir da convivência com os outros. O doutor e pesquisador em ciências humanas Luís Mauro Matino afirma que
“O cultivo da gentileza talvez seja o primeiro passo para a gente construir uma sociedade que não só vai ser mais justa, mas também vai ser mais agradável e mais tranquilo viver com o outro.”
A sensação de ser gentil.
Se você pudesse escolher outra palavra para a gentileza, qual seria? Empatia, solidariedade, respeito, amor, educação são fragmentos do que significa gentileza, que reúne todas essas qualidades. Quando nos alinhamos ao outro através da gentileza, o mundo se torna um lugar acolhedor. Nesse momento, endorfina e ocitocina predominam no cérebro, regulando a pressão arterial e o ritmo cardíaco, trazendo a sensação de felicidade, contentamento e bem-estar pleno.
A médica e escritora Kelli Harding diz que a gentileza beneficia "o sistema imunológico e a pressão sanguínea, e ajuda as pessoas a viverem mais e melhor". "É incrível, porque existe uma fonte inesgotável e gratuita deste benefício." A calma gerada por ela transforma profundamente e ajuda as pessoas a encararem o mundo.
Como tornar o mundo mais gentil hoje?
Estudos já comprovaram que “Gentileza gera Gentileza”. Testemunhar um ato gentil, mesmo entre estranhos, pode nos fazer sentir melhor em relação ao nosso mundo e nos tornar mais inclinados a sermos bondosos. Pesquisadores do Instituto Bedari Kindness chamaram esse estado de “elevação”, uma emoção edificante muitas vezes acompanhada pelo sentimento de calor no peito, arrepios e às vezes até lágrimas. Esse sentimento de inspiração leva as pessoas a quererem agir de forma semelhante, promovendo uma cadeia de altruísmo ou “contágio pró-social”.
Em um dos experimentos, que incluiu cerca de 8.000 participantes, metade das pessoas que assistiram ao vídeo "Unsung Hero" doou 25% a mais para a instituição de caridade do que aqueles que assistiram ao vídeo de acrobacias atléticas. "Unsung Hero" é uma propaganda tailandesa que fornece uma experiência emocionante do que é sentir a “elevação”.
Qual foi a sua última gentileza?
Você já se pegou com vontade de ser gentil, mas hesitou por medo de como os outros poderiam reagir? Reprimimos a vontade que surge como uma “vozinha” na nossa consciência, pedindo que sejamos atenciosos. Um sorriso, uma palavra de apoio, uma atitude interessada… Quantas vezes já deixamos esses gestos passarem em silêncio?
No dia 13 de novembro, celebramos o Dia Mundial da Gentileza, e essa é uma oportunidade para transformar nossa intenção em ação.
E você, quando foi verdadeiramente gentil pela última vez?
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