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Ubuntu: a gente precisa de gente para poder ser gente

Publicado: Terça, 19 de Novembro de 2024, 07h34 | Última atualização em Terça, 19 de Novembro de 2024, 12h39

Essa palavra pequena, mas de magnitude gigante, é uma filosofia na qual nem eu nem você existimos: o que existe é apenas o nós.

Três homens e duas mulheres, de diferentes raças, vistos de baixo em um círculo.
Imagem cortesia de freepik

Você pode já ter ouvido falar em “Ubuntu”. Essa palavra pequena, mas de magnitude gigante, representa um movimento que ganhou espaço em debates, nas escolas e até estampou algumas camisetas por aí. Ubuntu é uma filosofia na qual nem eu nem você existimos; o que existe é apenas o nós. Também não existe o olhar exclusivo para o indivíduo e para o coletivo separadamente, é preciso estar e dançar entre essas duas dimensões.

Traduzida no idioma Zulu como “Sou porque nós somos”, significa “eu sou porque você é, e você é porque eu sou”. "Assim como células do mesmo organismo são codependentes, a humanidade também é", resume Getrude Matshe, palestrante internacional africana, uma das maiores responsáveis por espalhar essa cosmovisão amorosa negro-africana no Ocidente.

“No fim das contas, ajudar o outro é ajudar a nós mesmos.”

Getrude Matshe nasceu no Zimbábue. Em entrevista à BBC News, ela conta que, em sua experiência no continente africano, mesmo quando as pessoas tinham poucos bens materiais, não havia um sentimento de privação ou de necessidade, porque todos contribuíam para o bem-estar da comunidade inteira.

Ela cita o exemplo de sua avó, que, mesmo sem ter muitas coisas, dava o que podia para aqueles que não tinham nada. Isso não era algo fora do normal ou uma exceção. Não se tratava de ajudar alguém para se sentir bem consigo mesmo, mas de entender que ajudar o outro é ajudar a humanidade da qual fazemos parte. No fim das contas, ajudar o outro é ajudar a nós mesmos. E esse “nós” não se refere apenas aos seres humanos; todos os seres da natureza que possuem força vital merecem o mesmo respeito.

O que e quem é Ubuntu?

Esse termo foi um presente para o mundo ocidental. O jeito de viver Ubuntu nos convida a assumir uma liderança servidora, o estilo de liderança que muitos já fizeram e fazem. Para Desmond Tutu, ganhador do prêmio Nobel da Paz pelos esforços para encerrar o apartheid em 1964, e de Nelson Mandela, Ubuntu foi como um remédio naquele período, pois conseguiu promover o senso de comunidade entre negros e brancos, ou entre negros de diferentes comunidades.

Uma pessoa que é Ubuntu tem consciência de que é afetada quando um semelhante a ela é afetado. Alguém que pratica essa filosofia escolheu olhar para o mundo sob uma perspectiva mais ampla, humana e empática em relação à humanidade de todos e qualquer um.

“O Ubuntu nos ensina que devemos observar o mundo sob todas as perspectivas, de todos os ângulos. Ao fazer isso, podemos extrair o máximo de compreensão possível sobre uma situação”, segundo o livro Ubuntu Todos os Dias, de Mungi Ngomane, neta de Desmond Tutu.

Como ser Ubuntu todos os dias?

Perguntar a outras pessoas sobre a visão delas de uma situação, colocar-se no lugar das pessoas envolvidas, perguntar o que as levou a agir daquela determinada forma, é uma maneira de ampliar a percepção da pluralidade e fortalecer a unidade humana, que são o espirito do Ubuntu.

A partir da pergunta “Com que frequência fazemos um esforço para ouvir verdadeiramente outras pessoas?”, a autora argumenta que o cenário mais comum é o da escuta passiva, que resulta em ouvir apenas o que gostaríamos de ouvir.

Mungi pede para que você se lembre de um momento em que se sentiu, de fato, ouvido, e de como essa sensação é boa e como faz as pessoas se sentirem acolhidas. Para uma escuta Ubuntu, ela indica o SHUSH (em inglês, palavra do verbo silenciar) da entidade Samaritans:

• Mostre que você se importa;
• Tenha paciência;
• Use perguntas abertas;
• Responda de volta;
• Tenha coragem de ajudar as pessoas a entender a arte de ouvir.

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